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20ª edição da revista Gênero na Amazônia - Dossiê Mulheres, Cultura e identidade negra

  • Publicado: Segunda, 18 de Abril de 2022, 14h13
  • Última atualização em Segunda, 18 de Abril de 2022, 14h20

20ª edição da revista Gênero na Amazônia  - Dossiê Mulheres, Cultura e  identidade negra

Apresentação

O presente dossiê Mulheres, cultura e identidade negra considerou trazer, para o centro das discussões, de que maneira a atuação, a trajetória e a história das mulheres negras se relacionam e interferem nas suas experiências de vida frente às diferentes formas de opressão às quais são submetidas cotidianamente A estrutura social, na qual essas mulheres atuam, se aglutina para além das relações de gênero, pois integram questões como racismo, classe social, sexualidade e sexismo. Na existência, as pessoas, sobretudo as mulheres negras, sofrem as múltiplas opressões como cargas simultâneas. Elas atingem todos os aspectos da vida social (COLLINS; BILGE, 2021). Nesse sentido, é no meio social, através de trajetórias individuais ou coletivas, que mulheres vivenciam tensões e sociabilidades de gênero relacionadas com a experiência da diáspora africana para o Brasil.

Os artigos apresentados neste dossiê articulam temas de imenso valor social e histórico para refletir as relações de gênero e perspectivas de ação feminina em diferentes situações culturais, levando em consideração as análises teórico-metodológicas a partir do conceito de feminismo interseccional (AKOTIRENE, 2019). Reunimos artigos que, articulados com a proposta do dossiê, nos brindam com um conjunto de escritos potentes sobre o protagonismo da mulher negra e a sua representatividade social e política. A linguagem e a comunicação, em várias formas e instrumentos, são caminhos a partir dos quais as autoras dos textos veiculados põem em circulação ideias e práticas exitosas para anunciar as lutas atemporais das mulheres negras. Atentando, principalmente, para as suas intervenções na vida pública, em que pese a sua capacidade de intervir em situações de violência e desigualdades.

No dossiê foram reunidas a literatura marajoara e os personagens clássicos como os elaborados por Sylvia Helena Tocantins em As Ruinas de Suruaña, em que a autora presente se inspira ao convocar Minervina: Representação De Uma Mulher Negra Marajoara a se expressar pela vida das mulheres negras.

Temos Jerônima narrando a linguagem corporal da capoeira com sua dupla função: preparar a saúde do corpo e a resistência das mulheres a escravidão passada e a contemporânea, que se disfarça de tentativa de padronização da beleza das mulheres, tal como apresenta o artigo No tempo de Jerônima, no tempo da brava: o Bando da Brava e as formadoras do Malungo Centro de Capoeira Angola no Pará, que também traz a formação do Bando da Brava, articulado ao Malungo Centro de Capoeira Angola, no presente.

Da mesma forma, as discussões apresentadas nos artigos Entrando na Roda: Relações de gênero e de poder no Movimento Capoeira Mulher em Belém-PA (2016-2017), de autoria de Luana de Nazaré Pinto Pena e O feminino na capoeira: vivências e experiências na capoeira angola paraense, de autoria de Maria Adriele Silva Souza e Luiz Augusto Pinheiro Leal permitem-nos ver como a capoeira é também um espaço importante para observarmos as experiências das mulheres negras amazônicas e as formas de opressão pelas quais são atravessadas.

No artigo Saberes ancestrais e o combate a colonialidade de gênero: a experiência do coletivo Angoleiras Cabanas em Belém-PA, as autoras Alessandra Ferreiras Marinho e Brenda Thais Kalife de Assunção apresentam o coletivo de capoeira angola Angoleiras Cabanas como um espaço importante de partilha de sentires e saberes ancestrais entre mulheres praticantes de capoeira angola em Belém do Pará. E, na mesma linha, temos o artigo “Espetáculo de luta”: a presença feminina na capoeira em Belém do Pará no final do século XIX e início do XX, de Lucenilda dos Santos Passos que traz uma perspectiva histórica da presença feminina nas rodas de capoeira belenenses.

As experiências associativas das mulheres negras também são analisadas por Letícia Cardoso Gonçalves e Mônica Prates Conrado no artigo A Rede de Apoio Mulheres Marajoaras em Movimento: Processos de enfrentamento à Covid-19 por mulheres do Arquipélago Do Marajó (PA), que traz reflexões importantes acerca da organização coletiva e seu protagonismo na luta antirracista na região amazônica do Brasil no contexto de pandemia da Covid-19.

O processo de criação e construção coreográfica da dança das Orixás femininas no Festival Folclórico de Tefé-AM foi analisado por Patrícia Torme de Oliveira e Betânia de Assis Reis Matta, no artigo A Performance na dança das Yabás no Festival Folclórico no município de Tefé no Amazonas, no qual apresentam uma discussão acerca das relações entre gênero e religiosidade, destacando o papel das mulheres no espaço religioso e as formas distintas de cultuar as deusas africanas.

No campo da literatura e da trajetória de vida, temos artigos que apresentam o empoderamento feminino negro de intelectuais negras e reflexões decoloniais, com a apresentada em Literatura, feminismo decolonial e educação popular, das autoras Mayara Haydée Lima Sena e Marília Neide Lima Sena. Nesse mesmo sentido, o artigo Poética dos afetos: lugar de fala, erotismo e empoderamentos em a voz das minhas entranhas, de Deusa D’África, de autoria de Jéssica Rodrigues Férrer, Joranaide Alves Ramos e Thamires Nayara Sousa de Vasconcelos, traz uma discussão acerca da [des]igualdade de gênero e estratégias de subversão da ordem através de uma política de afetos e da eroticidade, como ferramenta de poder e potência revolucionária, através da obra da escritora Deusa D’África.

O artigo sobre Zélia Amador de Deus e As Teias de Ananse na Amazônia, de autoria de Sandra Suely Moreira Lurine Guimarães expõe de que maneira a intelectual Zélia Amador de Deus foi combativa na luta antirracista, pelos direitos de pessoas negras, notadamente no que diz respeito à educação, por meio de sua importante contribuição na criação da lei das cotas raciais.

O artigo “Eu sou porque elas são”: Resistência e práticas emancipatórias em um coletivo de mulheres negras de Belém do Pará nos apresenta as experiências coletivas de mulheres negras amazônicas, suas lutas e desafios no contexto social e político atual. Nessa mesma linha, o texto Sem Caixeira não se faz Festa do Divino”: poder ritual das Caixeiras do Divino de Santa Rosa dos Pretos na afrocentralidade religiosa, na cosmopolítica da encantaria, na sacralização do território e no feminismo negro, de Juliana Loureiro, afirma de modo enfático a necessidade da presença e ação feminina em uma manifestação cultural de imensa importância para sua comunidade.

Na sequência do volume apresentamos Produções Textuais organizadas em dois conjuntos reflexivos: Saúde e violências institucionalizadas; Gênero, sexo e trabalho. Os temas envolvem descritivos de vivências do encarceramento de mulheres; desigualdade no reconhecimento do trabalho feminino no serviço público; denúncias contra a violência praticada à saúde integral das mulheres, inclusive quando estão voltadas para a saúde reprodutiva (e sexual).

Por fim, o volume que divulgamos reúne saberes e sabedorias em prol da informação histórica, formação cultural e das lutas por uma vida justa e digna, pauta de extrema relevância para a sociedade atual. Tendo em vista todos os retrocessos que temos vivenciado, com a ascensão da extrema-direita na gestão das políticas públicas voltadas para igualdade racial e de gênero, reunir essas leituras é um importante ato de fortalecimento das lutas femininas. Degustem e propaguem.

Antonia Lenilma Meneses de Andrade (UNESP)

Carolina Christiane de Souza Martins (UFPA)

Luiz Augusto Pinheiro Leal (UFPA)

Siméia de Nazaré Lopes (UFPA)

 

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